Bartleby, o Escrivão - Herman Melville

"Preferia não o fazer."
'Bartleby, o Escrivão', Herman Melville

A minha curiosidade em conhecer Bartleby vem desde os primeiros anos de faculdade, quando muitos dos professores falavam desta pequena obra como de um grande livro que se reinventa a cada época e em cada contexto em que é estudado. Não é fácil de engolir, mas ao afastarmo-nos da simplicidade da escrita e da estranheza da história, sentimos o verdadeiro valor deste conto de Melville.

Um advogado nova-iorquino emprega um novo escrivão no seu escritório, Bartleby, que surge como um homem de ar respeitável e reservado. Inicialmente prestável, o escrivão começa aos poucos a recusar todo o trabalho que lhe pedem com um "Preferia não o fazer", nem muito assertivo nem totalmente passivo, inegavelmente estranho e desamparado. O advogado tenta ajudá-lo, tem pena da sua vida solitária, e no entanto Bartleby leva cada vez mais ao extremo a recusa de tudo e de todos.

De farsa passa rapidamente a tragédia, mostrando esta viragem na vida de Bartleby, na sua forma de ver o mundo e tomar decisões, que eventualmente o vão levar a um fim extremo e inexplicável. Descobre-se afinal que Bartleby entende melhor o ser humano do que a maioria de nós: absorve em si todas as vontades do mundo, recusa por todos os que continuam a seguir as suas vidas correctas até ao fim, sem nenhum desvio no caminho. Reflecte toda a humanidade na sua melancolia, na persistência e na radicalidade da sua determinação.

Se superficialmente a história não parece entrar nesta dimensão social, se a analisarmos mais a fundo entendemos que as palavras de Melville, as personagens que descreve e a forma como se aproxima da tragédia de Bartleby é bem mais do que a simples história de um escrivão em Wall Street. É a história de muitos outros que, como ele, se envolveram na vida agitada, impessoal e massificada de Nova Iorque.

'Bartleby, o Escrivão: Uma História de Wall Street' é uma reflexão interessante sobre a condição humana e ao mesmo tempo uma história que nos inquieta do início ao fim sem o fazer explicitamente, o que a torna ainda mais estranha e bem construída.

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